Vozes de Zara: Poliglotismo e tradução


3 de Outubro de 2023 | 19:00 | Livraria da Travessa (R. da Escola Técnica 46)



As vozes de “Zara” são vozes múltiplas, de muitos países e territórios, levantadas pelo movimento da tradução e ligadas umas às outras pelo fio de uma poesia. Em 1880, Antero de Quental envia a Joaquim de Araújo duas quadras destinadas à campa de Zara, jovem irmã do amigo. Em 1894, sai a primeira edição poliglota, que inclui 77 traduções do poema “Zara” em 28 línguas diferentes (nalguns casos com múltiplas versões na mesma língua), feitas por 71 tradutores. Estes tradutores são, por vezes, autores de várias versões em línguas ou dialectos diferentes, organizadas a partir do latim, seguindo-se as línguas românicas e as do ramo eslavo, depois o grego, o albanês, as línguas germânicas e célticas, depois o hebraico, a língua romani, o árabe, as línguas urálicas e, por fim, o basco. Da mesma edição sai, em 1895, uma nova edição publicada em Génova pelo lusófilo Emilio Teza, que inclui mais onze versões. 

No dia 3 de Outubro de 2023, no âmbito do FlashMOV (CEComp), graças à re-edição do volume organizada pela Editora Saguão em 2022, é nossa intenção criar um espaço para ouvir as diferentes vozes, não apenas aquelas poliglotas das traduções “acabadas”, mas também as “progressivas”, de um denso diálogo epistolar. A rede humana, composta por estudiosos, tradutores profissionais e não profissionais, que se reuniu em torno do poema de Antero, é uma preciosa prova de que a tradução representa uma força ao mesmo tempo centrífuga e unificadora, tendo as suas raízes mais profundas na forma como os seres humanos se relacionam entre si.