Seminários Interartes e Intermédia #6: “The Diva is Present: Em torno de Seven Deaths of Maria Callas de Marina Abramovic”

 



Na próxima sessão dos Seminários Interartes & Intermédia 2022-2023, João Pedro Cachopo (CESEM; U. NOVA de Lisboa) fará uma apresentação intitulada The Diva is Present: Em torno de Seven Deaths of Maria Callas de Marina Abramovic”. Seguem abaixo o resumo da apresentação e a nota biográfica do orador.

Respondente: Cristiana Vasconcelos Rodrigues (CEComp; U. Aberta).

Esta sessão terá lugar no dia 16 de Fevereiro, entre as 15:00 e as 16:30, em formato presencial e remoto (sala B112.G, Biblioteca da FLUL; ligação Zoom).


Resumo:
The Diva is Present: Em torno de Seven Deaths of Maria Callas de Marina Abramovic”


Quase meio século após a morte de Maria Callas, o mito da cantora persiste. Na verdade, olhando para os últimos anos, parece intensificar-se. Proliferam os livros, os documentários, as exposições, os eventos, as homenagens. A popularidade da cantora alastra do mercado discográfico ao universo do Spotify e do Youtube. Surgem, além disso, projectos inéditos, nos quais o uso de novos meios tecnológicos toma a dianteira: uma exposição interactiva, um concerto com um holograma, um vídeo-clipe de um dueto póstumo.

É contra este pano-de-fundo que abordarei Seven Deaths of Maria Callas (2020), uma ópera-performance de Marina Abramovic, com música de Marko Nikodijevic e vídeo de Nabil Elderkin. Cruzando diferentes artes e media, o espectáculo reencena, entre o palco e o ecrã, as mortes de sete personagens femininas de sete óperas famosas: La Traviata de Verdi, Tosca de Puccini, Otello de Verdi, Madame Buttlerfly de Puccini, Carmen de Bizet, Lucia di Lammermmor de Donizetti e Norma de Bellini. Cada uma destas árias é interpretada ao vivo por uma cantora distinta ao mesmo tempo que é projectado, num ecrã gigante no fundo do palco, um vídeo. São, portanto, sete vídeos nos quais Marina, ora sozinha ora contracenando com William Dafoe, incarna sete mortes sob o signo da tuberculose, do salto, do estrangulamento, do Hara-Kiri, do esfaqueamento, da loucura e do fogo. A estas sete mortes soma-se uma oitava: a morte de Maria Callas. É nesta oitava cena, que reproduz as circunstâncias da morte da cantora lírica no seu apartamento parisiense em 1977, que Marina Abramovic, incarnando Callas, intervém, como artista de performance, em palco.

O meu propósito, nesta comunicação, é duplo. Por um lado, pretendo discutir alguns dos temas convocados por este projecto: o lugar da mulher na ópera, o fenómeno da diva, a relação entre cultura popular e arte erudita. Por outro lado, tomando como ponto de partida a ênfase na presença da artista em palco – um aspecto crucial da obra e do discurso em torno da obra de Abramovic –, procurarei mostrar como Seven Deaths of Maria Callas incarna e manifesta o paradoxo que atravessa muitos dos recentes projectos em torno de Maria Callas: por um lado, o fascínio pela multiplicação de imagens, de duplos, de cópias; por outro lado, a obsessão com os valores da originalidade: a autenticidade, o ao vivo, a presença.

 

João Pedro Cachopo leciona Filosofia da Música na Universidade NOVA de Lisboa. É membro do CESEM, onde coordena o Grupo de Teoria Crítica e Comunicação, e colaborador do IFILNOVA. Os seus interesses de pesquisa incluem o cruzamento entre estética, política e tecnologia, a relação entre as artes, e questões de performance, dramaturgia e remediação.

É o autor de A Torção dos Sentidos: Pandemia e Remediação Digital, publicado em Portugal (Documenta, 2020) e no Brasil (Elefante, 2021), bem como internacionalmente, numa versão expandida traduzida para inglês, sob o título The Digital Pandemic: Imagination in Times of Isolation (Bloomsbury, 2022). O livro com base na sua tese de doutoramento sobre a estética de Theodor W. Adorno, Verdade e Enigma: Ensaio sobre o pensamento estético de Adorno (Vendaval, 2013), recebeu o prémio do PEN clube português na categoria de primeira obra em 2014. Coeditou Rancière and Music (Edinburgh University Press, 2020), Estética e Política entre as Artes (Edições 70, 2017) e Pensamento Crítico Contemporâneo (Edições 70, 2014). O seu trabalho foi publicado em revistas como The Opera Quarterly, New German Critique e Sound Stage Screen, assim como em volumes coletivos como The Routledge Companion to Music and Modern Literature. Traduziu para português Georges Didi-Huberman, Jacques Rancière e Theodor W. Adorno.

Entre 2017 e 2019, foi Marie Skłodowska-Curie Fellow na University of Chicago. Lecionou como professor visitante na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2016), na Universidade Estadual de Campinas (2016) e na Universidade de Brasília (2022). Foi investigador visitante na Universität Potsdam (2008), na Université Paris 8 (2009), na Humboldt-Universität zu Berlin (2010), na University of Durham (2012) e na Columbia University in the City of New York (2015). Apresentou o seu trabalho na Alemanha, na Argentina, no Brasil, nos Estados Unidos da América, em França, na Grécia, na Irlanda, em Itália, na Polónia e no Reino Unido.