Chamada para Trabalhos: Compendium N.º 5
NOVO PRAZO: 12 de Janeiro de 2024
Escrever o Atlântico Pós-Colonial: Histórias, Estórias e Discursos Memorialistas
Prazo para envio dos artigos: 12 de Janeiro de 2024
Editores:
Inocência Mata (Universidade de Lisboa)
Roberto Francavilla (Universidade de Génova)
Luca Fazzini (Universidade de Lisboa)
A Compendium está a receber artigos para o quinto número, Escrever o Atlântico Pós-colonial: estórias, histórias e discursos memorialistas.
O presente dossier temático pretende convidar a uma reflexão de carácter comparativo à volta das formas de escrever e pensar o Mundo a partir dos trânsitos marítimos que marcaram o expansionismo imperial e os seus desdobramentos pós-coloniais.
Teóricos do “mundo Atlântico”, como Paul Gilroy (1993) e Alberto da Costa e Silva (2003), concordam em destacar a centralidade das trocas oceânicas tanto para a construção de um ethos moderno, das dinâmicas e das hierarquias de poder decorrentes da expansão europeia, quanto para a compreensão das persistências das dinâmicas da violência, de matriz imperial, na contemporaneidade.
Da ocupação das Américas aos processos de colonização efectiva no continente africano, corpos, culturas, saberes, técnicas e ideologias disseminaram-se nas duas margens do Atlântico. De acordo com o database da Slave Voyages, da Rice University, cerca de 12 milhões de indivíduos deixaram, escravizados, o continente africano para o trabalho forçado em solo americano e europeu. Paralelamente, de acordo com os diversos modelos de colonialismo e das exigências das Metrópoles coloniais, o espaço americano e africano tornou-se teatro de processos de imersão (Mbembe 2021) que, a partir da imposição violenta e instrumental da razão/civilização ocidental, reconfiguraram a relação entre cultura, identidade e espaço (Hall 2003). Tais movimentos ganharam novos impulsos e dinâmicas na contemporaneidade pós-imperial, mantendo inalteradas, no entanto, as relações desiguais entre o norte e o sul globais.
Se a literatura, dos relatos de viagens do século XVI até às chamadas literaturas (pós-)coloniais (Boehmer 1998; Mata 1989, 2016; Mata & Lugarinho 2021), testemunhou o encontro conflitual com o Outro, estereotipizando e mitificando a África (Mudimbe 1988) e participando dos processos de construção da diferença racializada, a abordagem pós-colonial (Mignolo 2000; Hall 2003; Mata 2016) propõe uma revisão crítica radical das concepções modernas sobre o Outro. Tal crítica permitiria pensar o espaço do Atlântico numa multiplicidade perspéctica, destacando, ao mesmo tempo, a persistência das violências e hierarquias modernas nas configurações neocoloniais e endocolonias contemporâneas. A literatura pós-colonial seria, neste sentido, uma literatura anfíbia, na medida em que transitaria simultaneamente no campo da estética e da política (Santiago 2000).
Cartografar as estórias e histórias do Atlântico, espaço tópico do expansionismo europeu e do encontro conflitual com o Outro, em perspectiva diacrónica, apresenta-se portanto como uma oportunidade de reflexão sobre as intersecções entre literatura e poder, e sobre as formas de pensar o real, em literatura, a partir da coexistência de múltiplas epistemologias e temporalidades.
É para discutir estes temas que o dossier Escrever o Atlântico Pós-colonial: Histórias, estórias e discursos memorialistas convida investigadores a apresentarem estudos no âmbito dos seguintes eixos:
— Inscrições dos trânsitos atlânticos na literatura e na cultura;
— Modos de encenar imaginários do Império na literatura e na cultura;
— Memórias de viagens coloniais e pós-coloniais;
— Memorializações estéticas de violências raciais e de género na literatura;
— Disseminações da história atlântica: literaturas europeias de autoria afrodescendente;
— Escritas de cidades-porto atlânticas: o espaço urbano como “zona de contacto” e “lugar de memória”;
— Comparações oceânicas: ler o Atlântico e o Índico em perpetiva comparada.
São especialmente bem-vindas propostas que incidam sobre tópicos que ultrapassem as fronteiras do mundo ocidental, bem como propostas de doutorandos e investigadores independentes ou em fase inicial de carreira. Os artigos podem ser escritos em português, inglês, espanhol ou francês, e devem ter entre 6.000 e 8.000 palavras, incluindo notas, referências, um resumo de 150 a 250 palavras e 4 a 6 palavras-chave. Os autores devem seguir as normas de formatação indicadas em Instruções para os Autores. Os artigos devem fazer-se acompanhar de um segundo documento contendo uma breve nota biográfica do/a autor(a), até 150 palavras.
Quaisquer questões ou manifestações provisórias de interesse poderão ser enviadas para os editores através do endereço: lucafazzini@campus.ul.pt.
Submissão em linha: para efectuar o registo e apresentar um artigo para avaliação, siga a hiperligação Nova Submissão, acessível na página inicial da Compendium, até ao dia 30 de Novembro de 2023.
Referências:
- Boehmer, Elleke (ed.) (1998). Empire Writing: An Anthology of Colonial Literature, 1870–1918 Oxford: Oxford University Press.
- Gilroy, Paul (1993). The Black Atlantic: Modernity and Double Consciousness. London/New York: Verso.
- Hall, Stuart (2003). Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Editora UFMG.
- Mata, Inocência & Lugarinho, Mário César (2021). Um campo de batalha abandonado: a incômoda memória da literatura colonial portuguesa (1926-1974). In: Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, n. 36, p. 26–40, jul./dez. 2021.
- Mata, Inocência (2016), Localizar o pós-colonial. In: García, Flavio. Mata, Inocência. Pós-colonial e pós-colonialismo: propriedades e apropriações de sentido. Rio de janeiro: DIalogarts, pp. 32-50.
- Mata, Inocência (2001), “O texto colonial: uma questão estético-ideológica”. In: Mensagem. Luanda, nº 4, p. 32-39. Incluído em: Literatura angolana: silêncios e falas de uma voz inquieta. Lisboa: Mar Além, 2001, p. 48–54.
- Mbembe, Achille (2021). Out of the dark night: Essays on decolonization. (trans. by Daniela Ginsburg). Columbia University Press.
- Mignolo, Walter D. (2000). Local Histories/Global Designs: Coloniality, Subaltern Knowledges, and Border Thinking. Princeton: Princeton University Press.
- Mudimbe, Valentin-Yves (1988). The Invention of Africa. Gnosis, Philosophy, and the Order of Knowledge. Bloomington/Indianapolis: Indiana University Press.
- Santiago, Silviano (2000). Uma literatura nos trópicos. 2.ed. Rio de Janeiro: Rocco.
- Silva, Alberto da Costa e (2014). Um Rio chamado Atlântico – A África no Brasil e o Brasil na África. Sao Paulo: Nova Fronteira.